quinta-feira, 20 de junho de 2019

Quem?

Eu bato, ele não me atende.
Eu falo, ele não me entende. 
Que tipo de estranho sou eu? 
Sou um transeunte que pára a jogar conversa fora;
sou um maníaco, que te odeia e te adora;
sou um velho conhecido, de quem você já se esqueceu.

É tão desconcertante, tão consternante, ver alguém que lhe cause afeição;
não querer falar das mazelas, dos problemas que viveu.
E dizer _vai-te e deixa-me, que da minha vida cuido eu!_

Na verdade, sou mais que um estranho, sou um intruso. 
Sou um tolo que se esquece, que nem tudo é o que parece, e que
não se pode chegar ao forasteiro e exigir _Conte-me tudo!_.
Sou alguém que vê uma miragem; que vive e viveu  uma quimera - portanto, 
esta pantera, voltou-se e me mordeu.

domingo, 26 de maio de 2019

Fomos


 Então é isso; é assim que termina...
Umas poucas palavras polidas, uma após outra, retrucadas de forma quase inconscientes, depois o silêncio da sina.

 O tempo me deu um poder, não sobre,
mas natural; uma certeza comparada à vidência. Porque nada mais natural do que as marcas similares da recorrência.

 Nada mais natural do que o suor frio do nervoso, do que o medo ante ao perigo, do que um distânciamento silencioso entre os que foram um dia amigos.

Aquela intercadência entre os assuntos se torna algo que não se pode desprezar, porque enquanto ela cresce, cresce junto a consciência de que não há mais nada o que falar.

Houve. Sim, houve... e é pretérito, e perfeitamente indicativo, de que não há mais nada que cative o interesse; de que não há mais nada misterioso e atrativo.

sábado, 25 de maio de 2019

À um amigo

Permanece em mim uma época de incertezas. 
Um período em que se irrompeu um medo comum em minha mente. Aquele do tipo que chega quando vivemos o bastante para compreender de fato a realidade que nos cerca; aquele que chega quando acordamos de um longo período dormente. 

E de repente, depois da exaltação da juventude, 
você se depara com a dureza de uma súbita e razoável sapiência.
Com o quão enfadonhas e desinteressantes são as diárias casualidades, com o quão inevitável é a obrigação da própria subsistência.

Os dias que se seguem são banais e cheios de insignificância; são poeira num deserto de existência. As dores e os problemas comuns, vez ou outra, lhe trazem de volta aquela época dourada à consciência, onde a brisa tranquila soprava as doces risadas da nossa infância e o abraço materno assegurava-nos o conforto da inocência . 

Hoje trabalhamos, comemos, bebemos e dormimos. Vez ou outra ainda rimos, tentando disfarçar o cansaço e a indiferença que estes dias tão repetitivos nos trouxeram. Nos deixando migalhas de alegrias; nos deixando apenas nostalgias; nos deixando À espera daquele dias, que quando jovens, nossas mentes tanto quiseram.

Elegia

Diz o que queres de mim, vida! 
Mostra esta vereda coberta por rebentos 
que permanece incógnita; escondida.

Toda música é melancolia, toda tristeza é melodia. 
Me diz que irá ficar tudo bem...
diz-me que não sou tua causa perdida! 
Traz Fulgência à esta alma atada à essa labuta nictofílica. 

Me doem as coisas passadas, sobretudo, estou
a eras cansada das trivialidades, que para mim não representam nada, 
contudo, aos outros parecem tão significativas. 

Quem dera tivesse os medos da mocidade,
eram medos cheios de ânimo na verdade.
Hoje tenho-os como um fosso de obscuridade e 
asco da realidade que me  é apresentada. Se há algo
que me vivifique, é uma incerteza longínqua. 

Há algo que seja tão puro em bondade,
que perdure o rumo de todas idades, que supere
a dor das futilidades, que me faça te sentir realmente, vida? 
Porque sinceramente, o real parece-me agora
uma elegia velha e empoeirada, deixada ao apodrecer 
numa biblioteca esquecida.

Motivos para te esquecer.

Anote para mim com caneta, tudo que irei te dizer. Hoje, neste maio, vinte e cinco, ponho um ponto final na loucura obsessa que sinto, pois tenho agora outro motivo para nunca mais lembrar de você.

Disseste as palavras certas, deste o teu veredito. Não que o contrário esperasse em pensamento... O que fala mais que o sutil comportamento, daquele que com a boca escusa pelo que nunca foi dito?

Estás distante neste momento. Quebras meu abraço olhando para a negação. Sei bem que não é correspondida a paixão, enquanto tua indiferença me rasga por dentro.

Mais nada para reparar tal coisa é possível fazer. Amei-te; assim ninguém peça ao outro o que  também não pode oferecer. Dei a ti genuíno afeto, mas claro está que não é recíproco. Falaste agora em tom sincero, conformada pela razão estou com isto. 

De ti sentimento mútuo não mais espero, nem pela metade posso aceitar te ter. Tu me relembras-te ser auto-dileto, agora falta somente te esquecer.

Onde mora a solidão?

Em meio aos comuns ouvindo a gargalhada e a prosa, solto palavras nervosas, meio distraída pelo burburinho. Ouço vozes falando toda conversa absorta, conciliando o meio externo à minha memória louca,  redarguo de modo incerto.
São pessoas familiares, rostos que minha mente recorda, porém meu íntimo não toca seus estranhos universos.  Não há uma escada, que permita a escapada desta clausura corpórea que me esconde. Tão perto, mas tão longe, tão longe mas tão perto.
Mais distanciada ainda, reclusa em meu aposento, sentada me analiso À procura da prisão.
Percorro meu corpo com membros trêmulos, então me pergunto _Onde mora a solidão?_

Mora nas palmas das minhas mãos, com as quais os despeço com frios acenos?
Mora nos pés, que correm do Afável e se lançam ao detestável?
Ou mora nos meus lábios, que não sabem dizer uma sentença amável?
Talvez nos meus ombros? Que dão a impressão de quem já deixou o interesse e deu lugar à acusação. Pode ser nos meus olhos, que revelam o medo orgulhoso da vexação.
Não! São todos fantoches, do vilão, um pobre diabo, chamado coração.  
Que cedeu lugar à quem tanto temo : o silêncio, o vazio, à distância e à resignação.

Ei, mocinha !




Não me chame de mocinha!
Ando com minhas próprias pernas, conheço as situações dolorosas e austeras.
Enquanto rasga a minha garganta um nó, e
as lágrimas internas escorrem, a dor que sinto sozinha.

Não venha julgar simples minha lida!
Nem me venha acusar de inércia, pois ainda hoje sinto uma esperança persistente, um
último suspiro complacente, que não me deixar abjurar por completo à vida.

Ninguém conhece a profundidade de um desespero como a alma doente.
Somos mentes e circunstâncias diferentes. Somos pequenos mundos isolados, regidos
por suas próprias leis e falhas ocasionalmente.

Fraca estou !
Mas ainda assim espero soltar as amarras sem ser alvo de reprimenda e
olhares de reprovação. Espero ainda ter a licença de sofrer essa mortificação, sem
aparecer quem me pise a chaga usando de comparação, igualando
a todos, o que vivi e o que sou.


                                          Não me imponha a felicidade como obrigação !
                                                  Espero ainda a licença de poder cair.
                                Sou apenas uma vara abalada pelo vendaval destino, que
                        me dobra até eu partir. E quando hei de partir dessa miserável provação?
                                    Dobrei-me tanto que estou no chão... por uma raiz vagando
entre a vida e a morte, esperando a derradeira tempestade vir.